02/04/2011

Sobre cabeça e outras partes do corpo


Até agora eu me abstive de comentar acerca do ato falho cometido por um ator chamado Marauê Carneiro, que recentemente esteve em Teresina, como integrante do elenco de uma peça que estava em cartaz na capital. Acho que o assunto já rendeu o que tinha de render e, sobretudo, o que não tinha. As linhas a seguir são despretensiosas, com o objetivo único de refletir, a partir do meu ponto de vista, sobre o fato.

Eu, nascida em Teresina, no Piauí, não me senti nem um pouco atingida pelo que ele falou. Sei das qualidades e dos defeitos do estado e não entendo até hoje a repercussão que isso teve. Claro, ninguém gosta de ver “alguém de fora” falar mal do lugar onde você vive. Só que o assunto tomou tamanha dimensão que a palavra “Marauê” ficou entre as dez mais citadas no Brasil, através do Twitter, no dia 26, superando “Ficha Limpa”, assunto nacional que estava em pauta na ocasião.

Por que tanta indignação causada pela fala deste rapaz entre os piauienses? Se fosse o Lula, o Papa, o Obama, ou qualquer outra pessoa que, de fato, tivesse alguma relevância entre a opinião pública, eu poderia até entender se o mesmo tivesse acontecido. Mas não foi isso que ocorreu.

A reação despertada entre várias pessoas serviu para que alguns políticos aproveitassem o momento e em nome da defesa da imagem do Piauí – o que me faz lembrar muito do que o Charaudeau fala no livro Discurso Político acerca de alguns tipos de ethos manifestados por meio do discurso – mandassem suspender a autorização para que a peça fosse apresentada no teatro da Assembleia Legislativa, um local “do povo”. Que absurdo. Neste ponto eu concordo com Reinaldo Azevedo, articulista da revista Veja, que participou de uma discussão ridícula e desnecessária com o deputado piauiense Fábio Novo.

Nós, piauienses, temos de aprender a nos valorizar mais e não considerar coisas tão insignificantes. Usar a CABEÇA nessas horas – e a toda hora. Ver o quanto que ainda temos de melhorar e concentrar nossa indignação para cobrar aspectos realmente importantes: uma educação pública melhor, um sistema público de saúde eficiente, segurança, emprego. Pensar e agir sobre o que pode interferir, de fato, em nossas vidas.